sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Sobre o Programa Supernanny



Milhares de palavras já foram escritas sobre este tema. Senti-me tentada a escrever sobre este assunto mal comecei a ler os primeiros textos, sem ter visto sequer o programa. Lá arranjei um tempo para ir às gravações ver o programa.

Eu até nem sou esquisita com programas de televisão. Tanto vejo um ‘Prós e contras’ como uma casa dos segredos. A televisão é uma ferramenta de informação e de entretenimento. Ora na minha opinião aquele programa não é uma coisa, nem outra.

O programa Supernanny, na minha opinião, devia ser refeito, repensado. Ou seja, eu percebo perfeitmente o desespero dos pais que não sabem como lidar com birras, com falta de educação, com agressões. Sei o quão cansadas nos podemos sentir, o quão frustradas. Conheço bem o sentimento de não se estar a ser boa mãe, de ter dúvidas na nossa cabeça a toda a hora e conheço a vontade esporádica de mandar tudo ao ar. Por isso, percebo e acho lindamente que se peça ajuda especializada. Seja com psicólogos, terapeutas de dono, educadores, etc. O que eu não percebo e não concordo é com a exposição das crianças na televisão. E não me venham dizer que sou hipócrita porque também exponho os meus filhos nas redes sociais. Não tem nada a ver. No programa Supernanny, as crianças são expostas em momentos de extrema vulnerabilidade, insegurança, cansaço, medo. Imaginam o que é para uma criança cansada, ao fim do dia, a fazer uma birra, ter estranhos em casa com câmaras de filmar? Mais uma senhora que não conhecem de fato, saltos altos, óculos, carrapito na cabeça e cara de má? É assim que a Supernanny se apresenta naquele primeiro impacto. Depois lá volta de cabelo solto, toda meiguinha e cheia de autocolantes e bonecos para quem completa as tarefas. Mas o primeiro impacto não é o mais simpático. Também há quem compare este programa com o Materchef junior e outros. Lá está. Não é a mesma coisa. Nestes programas as crianças estão divertidas, entretidas, motivadas. Não é uma invasão à sua casa, ao seu quarto, à casa de banho.

Confesso que até fiquei de lágrimas nos olhos quando, no primeiro programa, a Margarida implorava à mãe que queria ir para a cama da mãe, berrava, e levou duas palmadas no rabo. Ali. À frente da nanny, à frente das câmaras, à frente do país inteiro, naquele que devia ser o sítio mais seguro do  mundo, o seu quarto.  São estes momentos com os quais eu não estou de acordo. Acho que o programa pode e deve continuar a existir mas de outra forma. Os pais podem relatar alguns momentos mais difíceis, sem filmar as crianças a passar por eles. Explicar como a hora do banho é complicada ou a hora de ir dormir. E não filmar um miúdo de 5 anos aos berros dentro do duche. Sinceramente acho que isto não traz nada de bom a ninguém. Nem ao miúdo, nem aos pais, nem aos espectadores. Depois de explicadas as maiores dificuldades a nanny pode dar as suas dicas, dos autocolantes, do banquinho/tapete (que também não achei grande ideia mas respeito) e incentivar a implementar as tarefas. Os momentos do castigo, que é o que aquele banco/tapete é, um castigo, deixar entre pais e filhos. Não filmar. Não transmitir. É uma humilhação para os miúdos, sim.


Reforço que este programa não tem NADA a ver com bloggers ou pais que partilham fotografias dos filhos nas redes sociais. Quem o faz, normalmente partilha momentos felizes. Primeiros passos, dentes a nascer, fotografias de férias, conquistas, etc. São partilhas de momentos positivos e felizes. Não são partilhas de momentos de vulnerabilidade, dor e tristeza. Isso não se faz. Não se faz.

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