Milhares de palavras já foram
escritas sobre este tema. Senti-me tentada a escrever sobre este assunto mal
comecei a ler os primeiros textos, sem ter visto sequer o programa. Lá arranjei
um tempo para ir às gravações ver o programa.
Eu até nem sou esquisita com
programas de televisão. Tanto vejo um ‘Prós e contras’ como uma casa dos
segredos. A televisão é uma ferramenta de informação e de entretenimento. Ora
na minha opinião aquele programa não é uma coisa, nem outra.
O programa Supernanny, na minha
opinião, devia ser refeito, repensado. Ou seja, eu percebo perfeitmente o
desespero dos pais que não sabem como lidar com birras, com falta de educação,
com agressões. Sei o quão cansadas nos podemos sentir, o quão frustradas.
Conheço bem o sentimento de não se estar a ser boa mãe, de ter dúvidas na nossa
cabeça a toda a hora e conheço a vontade esporádica de mandar tudo ao ar. Por
isso, percebo e acho lindamente que se peça ajuda especializada. Seja com
psicólogos, terapeutas de dono, educadores, etc. O que eu não percebo e não
concordo é com a exposição das crianças na televisão. E não me venham dizer que
sou hipócrita porque também exponho os meus filhos nas redes sociais. Não tem
nada a ver. No programa Supernanny, as crianças são expostas em momentos de
extrema vulnerabilidade, insegurança, cansaço, medo. Imaginam o que é para uma
criança cansada, ao fim do dia, a fazer uma birra, ter estranhos em casa com
câmaras de filmar? Mais uma senhora que não conhecem de fato, saltos altos, óculos,
carrapito na cabeça e cara de má? É assim que a Supernanny se apresenta naquele
primeiro impacto. Depois lá volta de cabelo solto, toda meiguinha e cheia de
autocolantes e bonecos para quem completa as tarefas. Mas o primeiro impacto
não é o mais simpático. Também há quem compare este programa com o Materchef
junior e outros. Lá está. Não é a mesma coisa. Nestes programas as crianças
estão divertidas, entretidas, motivadas. Não é uma invasão à sua casa, ao seu
quarto, à casa de banho.
Confesso que até fiquei de
lágrimas nos olhos quando, no primeiro programa, a Margarida implorava à mãe
que queria ir para a cama da mãe, berrava, e levou duas palmadas no rabo. Ali.
À frente da nanny, à frente das câmaras, à frente do país inteiro, naquele que
devia ser o sítio mais seguro do mundo,
o seu quarto. São estes momentos com os
quais eu não estou de acordo. Acho que o programa pode e deve continuar a
existir mas de outra forma. Os pais podem relatar alguns momentos mais difíceis,
sem filmar as crianças a passar por eles. Explicar como a hora do banho é
complicada ou a hora de ir dormir. E não filmar um miúdo de 5 anos aos berros
dentro do duche. Sinceramente acho que isto não traz nada de bom a ninguém. Nem
ao miúdo, nem aos pais, nem aos espectadores. Depois de explicadas as maiores
dificuldades a nanny pode dar as suas dicas, dos autocolantes, do
banquinho/tapete (que também não achei grande ideia mas respeito) e incentivar
a implementar as tarefas. Os momentos do castigo, que é o que aquele banco/tapete
é, um castigo, deixar entre pais e filhos. Não filmar. Não transmitir. É uma
humilhação para os miúdos, sim.
Reforço que este programa não tem
NADA a ver com bloggers ou pais que partilham fotografias dos filhos nas redes
sociais. Quem o faz, normalmente partilha momentos felizes. Primeiros passos,
dentes a nascer, fotografias de férias, conquistas, etc. São partilhas de
momentos positivos e felizes. Não são partilhas de momentos de vulnerabilidade,
dor e tristeza. Isso não se faz. Não se faz.
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